Memória machucada

Eu sonho tanto com o futuro
Que é passado
Que até pro amor
Hoje
Eu sou passado

Ah, eu sei
Eu sou todo passado
Mas falta a lágrima
E é cansaço

Passado e futuro

Vou contar a vocês
A história do que vivi
Que tem segredos abertos
Passados marcados
Caminhos antigos
Com belas árvores
(e folhas caídas)

Pulsa, pulsa e brota, jorra, derrama
O sangue que nasce da ferida
Outrora criada por tua doce lascívia
Que não foi minha

A dor é um som calmo
Que segue seu percurso
Como a dama em uma valsa
Talvez você queira guia-la
Pelo mundo em delícias
Mas isso é ilusão fugaz
De inocência tola
Destituída

Ah, mas é tão bela
Toda a minha podre vida
Que por vezes penso
Que talvez dela alguém
Se apaixone
Se enamore
Se complete
Fazendo de mim
Talvez, quem sabe
Um inocente jardim de delícias

Não, não te direi coisas da minha vida
Só sonhos e pesadelos
Perfumes serenos
Calores cansados
Canduras trancadas

Não, não te direi coisa alguma
Nas linhas tecidas com vida
Nas brumas de desejos distantes
Nas calúnias divinas
Nos assombros profanos
Eu não me deito mais
Não aceito mais
Ser torto assim
Ou certo
Uma performance
Uma brisa
Nem uma nem outra
Serei apenas escuridão
Que é onde o amor se faz
Onde a traição se trai
Onde a tristeza se exprime
E a vida se comprime
Com corpos que se imprimem
Ah...

Passagem do tempo II

O tempo é a censura
Que Deus dá à vida dos homens
Suas possibilidades
Em tom de usura
E escolhas
Com ou sem nomes

Eu

Sem lar
Sem par
Sem ar

Passagem do Tempo

Se no interior
Há o infinito,
Se encontrar,
Se saber
Nunca foi opção.

O universo não tem bussola, amor
Não tem orientação,
O amor também não.
Teu beijo em flor, calor
É, mas não é não

mas
mas

O tempo passa
Até que a vida para

E a eternidade
Mói
E esmigalha

Nota sobre milagres

Longe as vejo
Árvores ao sol

Paradas como sempre estiveram
Alçadas como sempre foram
Definindo mais uma vez a paisagem
Com uma dimensão natural

Fazem o que faziam ontem
Fazem o que farão amanhã
Fazem isto pois é isso
Que fazem delas o que elas são

Na definição
A Natureza é inércia de si mesma
À espera do sobrenatural

Maldade

Na estupidez de uma vida
Escolhi você
Como minha dor

Mas foi maldade
Foi desamor

Pétalas de mim

Que diz a pétala

Voando pelo ar?

Que é amor

Doçura

E lar.

Pequena nota sobre borboletas

Ah, meu falso coração
Infinitamente triste
Infinitamente vida

Como as borboletas
Mesmo vivas
São mortas
Posto que vida
É morte

Incerto

Às vezes eu quero simplesmente morrer

A dor cessa e o tempo pára

Mas... às vezes
Às vezes eu quero simplesmente existir
Dentro
Dentro

E dentro desta imensa dor semear um sorriso

Pequeno e delicado...